Neste espaço pretendo partilhar com toda a blogosfera a minha visão sobre os assuntos que vão fazendo o dia-a-dia de todos nós, aqui passará à posteridade... Outros assuntos que mexam com o civismo, que vai faltando na nossa sociedade e a camaradagem, que é fundamental para seguir em frente... são bem vindos ao "civismo e camaradagem".

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Sim à IGV, não ao referendo

O referendo de ontem, voltou a mostrar que os portugueses estão de costas voltadas com este tipo de consultas populares, ou seja, mais uma vez, os portugueses gastam milhões de euros em campanhas e actos eleitorais e depois a maioria não se desloca à urnas, para tornar o acto vinculativo juridicamente. Aconteceu assim com a consulta à regionalização, aconteceu assim, em 1998, com a consulta sobre o aborto e agora, em que o tema voltou a ser questionado, 56,4% dos portugueses que poderiam votar, não o fizeram.
Antes de abordar o triunfo do sim, de entre os que quizeram dar a sua opinião, sobre esta questão, entendo que o dia chuvoso que ontem se registou em grande parte do território nacional teve muita influência sobre esta vitória da abstenção, pois se olharmos para as sondagens que foram apresentadas na sexta-feira e que apontavam para o resultado final que se registou, todas elas apontavam também para valores bem abaixo dos 50% de cidadãos que optariam por não ir às urnas, no entanto, sei de alguns casos e certamente foram milhares que assim fizeram, de pessoas que perante a chuva e na ausência de uma grande vontade de votar, acabaram por ficar no conforto dos seus lares. Até porque, convinhamos, os cidadãos que teriam mais facilidade em se deslocar às mesas de voto foram os que realmente lá foram, ou seja os jovens, para quem esta decisão muito poderia querer dizer, uma vez, porque lhes tocava na pele e no corpo directamente. Dos 35 anos para cima, nota-se que a tendência de voto muda do sim para o não e na 3ª idade essa tendência acentua-se de forma clara. Pois claro, a situação já não lhes toca directamente e a iliteracia é também grande.
As sondagens também apontam para grande vitória do sim de entre os jovens com mais estudos, ao contrário do não que vence entre os mais velhos e com menos escolaridade. Claro, sempre com honrosas excepções em ambos os casos, porque votaram por convicções claras e desde já digo que compreendo argumentos em ambos os lados... Sei de uma analfabeta com 66 anos que votou sim..., mas também conheço uma licenciada com 25 anos que votou não. São as tais excepções que confirmam a regra que constituiu este referendo.
Sobre o resultado de entre os que foram votar, parece-me que não restaram dúvidas de que o sim foi vencedor, que a maioria dos portugueses querem despenalizar a Interrupção Voluntária da Gravidez, pelo menos quando feita por vontade da mulher, até às 10 semanas, por opção da mulher e em estabelecimento de saúde legalmente autorizado. Ou seja, parece-me claro que a maioria dos portugueses quer combater essa praga de séculos que é o aborto ilegal, os "desmanchos" feitos por mulheres que ajudando outras mulheres, fazem dessa a sua forma de ganhar fortunas. Para quem aconselhar a levar a gravidez em diante era perder dinheiro, pois são as que realmente ganhavam com o infortunio de mulheres e homens que após um acto de amor, sentiam na pele a infeliciade de uma gravidez num momento indesejável e muitas das vezes, aos seus olhos, impossível, pois para ter aquele filho enterravam por completo sonhos e projectos de vida, ou seja, muitas das vezes os abortos, são isso mesmo, são adiar o que mais se sonha nesta vida, que é ser mãe ou pai.
Acredito que abortar é muito difícil, mas ter filhos indesejados pode ser um tormento para muitas vidas mais, que a que se interrompe.
Fico feliz porque sei que algumas das mulheres que, quando a lei for mudada, optarem por interromper gravidezes, vão também poder optar por o fazer com condições médico-sanitárias aconselhaveis e mais que isso, vão ser acompanhadas. Sei de casaos de mulheres que abortaram e momentos depois arrependeram-se, agora, acredito, que poderão arrepender-se antes de abortar... e por uma vida que seja, que deixe de se perder, já valerá a pena.
Mais uma nota, é que ninguém perdeu nem ninguém ganhou. Porque sempre que uma mulher imterromper uma gravidez a humanidade estará a perder... sei que é uma utopia, mas só teremos razões para festejar quando não houverem gravidezes indesejadas, quando o planeamento familiar chegar ao seio das famílias, quando não houverem gravidezes frutos de relacções proibidas, sejam elas fruto de relacções adúlteras, incestuosas ou o que for... Quando a moral imperar na nossa sociedade.
Para que tudo isto seja possível, há grupos cívicos e religiosos que têm que ser coerentes, é que proibir métodos contra-ceptivos e o planeamento familiar ser assunto tabú e depois ser contra a despenalização de quem pratica o aborto... parece-me ser um contracenso muito grande.
Para terminar, algumas notas para alguns dos argumentos utilizados por ambas as partes no periodo de campanha.
Aos defensores do sim, dizer que teriamos que avançar para sermos iguais à maior parte dos paises da Europa, parece-me absurdo, ou seja "Maria vai com as outras..." não, recuso. Há vários países onde o consumo de drogas leves é legal... também devemos importar isso?
Os defensores do não, passaram o tempo de argumentar que são pela vida. Que ridiculo, defender a vida, que realmente o é, não nego, quando tem poucas semanas de existência e sem a mãe não prossegue autónoma, esquecendo a vida, das mulheres e homens que optam pela interrupção da gravidez. Porque não defendem essas vidas? Porque não compreendem os seus argumentos que levam a esse acto extremo e muitas das vezes tão doloroso física e psiquicamente? Dizerem que não têm apoios, é demagogia pura, pois sabemos muito bem quem apoiou muitos dos movimentos pelo não.
Agora espero, que este forte movimento cívico pelo sim e principalmente pelo não, continue a sua obra e que não acabe por aqui. Os tais apoios às mulheres que lhes eram prometidos, que continuem, que aumentem, para que a solidariedade entre iguais seja uma realidade. Mas para tal é necessário olharmos para os outros com bondade, com abertura de espírito, com sentimente benevolente e antes de julgar temos que compreender, mesmo aceitar e ajudar a melhorar as suas vidas.