As duas faces da sociedade actual
Hoje vou abordar duas realidades distintas da sociedade actual. Duas faces do rosto desta cara sociedade, que num momento revela a fera urbana que há em todos nós, como logo a seguir mostra a capacidade de dar sem receber nada em troca, a não ser, o prazer de ajudar... que afinal, até é muito.
Este fim-de-semana fui à bola com a família e aí lembrei-me várias vezes como é bom viver numa pequena cidade como felizmente acontece. Estou a pouco mais de uma hora dos grandes centros urbanos deste país, ou seja, rapidamente, se for necessário, nos colocamos lá, onde muitas das coisas acontecem, tal como muitos dos que vivem nos subúrbios de Lisboa e Porto, que devem demorar, mais tempo que isso desde que diariamente saiem dos seus lares, até chegarem aos postos de trabalho.
Mas voltando ao que constatei no terreno, ou seja, nesta minha viagem à selva urbana, pude ver níveis de competição muito elevados, com os cidadãos a lutarem por um lugar no estacionamento, os arrumadores a lutarem pelo seu território e se algum entra em campo que já tem dono, surgem conflitos. Tive essa experiência, pois dei uma moeda a alguém que me ajudou a encontrar um local para estacionar, mas pelos vistos aquela zona era de outro cidadão, que rapidamente atirou o seu utensílio de trabalho, ou seja, o "jornal enrolado" para o chão e cerrou os punhos, entrando em luta com o outro rapaz. Isto apesar de eu entretanto já ter dado uma moeda a ambos. Vi cidadãos a lutarem ferozmente por uma posição na fila de trânsito, olhando em frente como se não tivessem visão co-lateral e não se apercebessem que ali ao lado estado um semelhante à espera de um gesto de bondade e civismo. Mas não... na selva urbana todos os centímetros de asfalto contam, é como se fosse essa conquista diária, a razão da sua existência. Depois vi nas ditas filas, que já me tiravam do sério, aqueles que vão sempre a falar ao telemóvel, é que assim têm companhia, é verdade. Mais uma vez provou-se que nos grandes centros urbanos, os cidadãos são solitários, apesar de viverem em comunidades de milhões de habitantes. Até porque, muitos dos que lá vivem têm a infelicidade de nem saber quem são os seus vizinhos, os que entram e saiem da porta da frente todos os dias e partilham o mesmo elevador que nós.
Vi também a luta acesa por um lugar na fila dos hipermercados. Como os olhos vidrados, alguns deles camuflados por detrás de óculos escuros, quando nem na rua havia sol, muito menos dentro dos estabelicimentos comerciais. Mas de repente, como que por magia, aqueles mesmos cidadãos sofriam um ataque de solidariedade e foi bonito ver, que afinal ainda somos humanos, ainda temos capacidade de dar, pelo menos se for para alguém sem rosto... que não vemos o sofrimento. Vi muitos cidadãos a contribuirem para a recolha de bens do Banco Alimentar contra a Fome, vi o prazer no rosto das crianças que entregavam o saco com comida para quem nada tem. Aí vi uma Luz ao fundo túnel, apercebi-me que afinal ainda somos humanos, ainda ajudamos o próximo, ainda temos coração. Voltei para a minha pacata cidade mais tranquilo, pois a selva urbana, afinal é só "fachada", é tudo a fingir, as pessoas vestem os fatos de animais irracionais, só por necessidade, porque todos têm coracção e repleta de bondade para dar. Que bom que é saber, que o ser humano ainda não perdeu a sua capacidade de ajudar...
A Campanha do Banco Alimentar Contra a Fome angariou 1.509 toneladas de alimentos no âmbito da segunda fase da campanha anual de recolha de alimentos, num acréscimo de 2% em relação à campanha de recolha de Novembro de 2005. Agora, estes alimentos recolhidos serão distribuídos a mais de 219 mil pessoas carenciadas por 1.380 instituições de solidariedade social.
Afinal de contas, ainda tenho esperança na nossa espécie, ainda há bons sentimentos, ainda somos humanos, bem hajam a todos os que ajudámos...
Palavra especial para os cidadãos que prescindiram do seu tempo para, de forma graciosa, recolher, seleccionar e armazenar e mais tarde distribuir estes bens alimentares. Foram 14 mil voluntários que trabalharam para os que têm pouco, parabéns a todos... a solidariedade acredito, pode ser uma das novas maravilhas do Mundo, porque têm sido muitos os exemplos que revelam que estamos cada vez mais solidários... Por isso, ainda há esperança no Ser Humano.